n. 18 (9): Corpo: Poéticas, Ensino
Editorial
É com satisfação que a Editora da FUNDARTE lança mais uma revista reunindo artigos de renomados professores e artistas do cenário nacional. Esta edição tem uma especificidade, ela reúne artigos que têm como tema central o CORPO. Esta compilação é o resultado do mapeamento de um grande número de artigos que foram apresentados no último edital, suscitando a ideia de fazermos revistas temáticas com os materiais que nos foram enviados. São sete artigos que falam de arte e de corpo, todos abordando questões relevantes que, embora diferentes, são complementares por trazerem uma temática tão próxima do ser humano.
O professor doutor e artista Marco de Araujo analisa as transformações da representação da figura humana ao longo da história, sua eliminação e permanência, bem como outras relações entre o desenho e o corpo humano. A partir desta análise, propõe o estudo de algumas das mudanças e transformações da representação da figura humana e de outras relações entre corpo e desenho ao longo da história. O conceito de desenho trazido no texto abrange também a ideia de representação das formas e sua finalidade como um elemento estruturante e um meio auxiliar para outras artes.
O artigo de Carla Borin Vieira, orientada pelo Prof. Dr. Christian Hamm, é parte de sua dissertação de mestrado em Artes Visuais do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, da Universidade Federal de Santa Maria, RS. A pesquisa apresenta reflexões sobre o corpo feminino como objeto na arte contemporânea, questionando as possíveis relações desse corpo como objeto na arte e na sociedade e analisa o contexto dentro da história da humanidade do qual a mulher fez parte desde a Antiguidade.
Milene Tonellotto de Lima e Edemur Casanova têm por objetivo apresentar a pesquisa desenvolvida no Mestrado em Artes Visuais, da Universidade Federal de Santa Maria. Focada na poética pessoal da autora, a pesquisa parte da elaboração de pinturas, para compor a série “Corpos-Beijos”. Com essa série, buscou o estabelecimento de narrativas a partir da fotografia de modelos, bem como de apropriações de imagens de obras clássicas da história da arte e de expressões da língua italiana. As peças partem de um referencial fotográfico, em que se representam figuras humanas (corpos) que se beijam.
A professora e bailarina Luciana Paludo dialoga com Henri Bergson, Maurice Merleau-Ponty, Michel Serres, José Gil e Walter Benjamin no intuito de refletir sobre um pensamento que se fez corpo, nas experiências de vida e de dança que foram se engendrando durante sua existência dedicada à dança. Ela problematiza os conceitos inerentes ao fazer da dança, como as questões de duração, da presença e da memória do corpo, compreendidas como o conjunto de referências do artista em formação.
O artigo de Rosângela Fachel de Medeiros discute a situação contemporânea do corpo como identidade provisória, como uma construção pessoal realizada através das múltiplas possibilidades atuais de reformá-lo, transformá-lo e reestruturá-lo. Nessa perspectiva, nos provoca a refletir sobre a questão de como o cuidado do corpo está mais ligado à idéia de manter a aparência jovem do que de aumentar o tempo de vida. Problematiza a ideia da busca incessante por uma longevidade estética, por estar arraigada ao temor crescente ao processo de envelhecimento. A autora utiliza as performances dos artistas Orlan e Stelarc para demonstrar a importância desse potencial de transformação do corpo na contemporaneidade.
A professora Vanessa Caldeira Leite apresenta algumas ideias discutidas na dissertação de mestrado em Educação, aspectos de sua investigação sobre arte, corpo e suas implicações no campo educacional. Traz autores como José Gil, João Francisco Duarte Jr., Lúcia Santaella e Sandra Richter, e as falas de três professoras de artes entrevistadas em sua coleta de dados, promovendo uma discussão sobre a arte e suas possibilidades de produção do conhecimento sensível com e no corpo.
O bailarino e professor Giuliano Souza Andreoli faz uma breve revisão da relação histórica entre dança e Filosofia, dando especial atenção para a relação dança e pensamento. Através de Isadora Duncan discute aspectos da obra de Nietzsche, na dança. Também aponta algumas possibilidades de compreender a dança a partir do enfoque teórico pós-estruturalista de Michel Foucault. Finaliza o artigo abrindo algumas questões ao leitor sem a pretensão de respondê-las. “A dança é o pensamento do corpo?”
Como podemos ver, a Revista da FUNDARTE 18 transita pela temática do CORPO sob várias óticas e autores. Esperamos que esta seja uma contribuição importante para a área de Artes uma vez que o corpo é objeto indispensável na sua produção. A todos uma boa leitura.
Júlia Maria Hummes e Marcia Pessoa Dal Bello