SURDEZ E RACIALIDADE: IDENTIDADES EM DIÁLOGO NO ESPAÇO ESCOLAR?

Resumo

A presente pesquisa tem por objetivo relacionar surdez e racialidade na perspectiva dos Estudos Culturais a partir da categoria interseccionalidade e do aporte legal da Lei nº 10.436/02, do Decreto nº 5.626/05 e da Lei nº 10.639/03, dentre outras, de forma a questionar uma possível hierarquização de opressão e uma suposta homogeneização das identidades no interior da surdez. Tal pesquisa se justifica em virtude de os estudos da área da surdez explorarem, predominantemente, a dimensão lingüística do ser surdo; aparecendo como secundários outros possíveis aspectos da identidade da pessoa surda, como gênero, raça/cor/etnia, classe social etc. A metodologia utilizada, do ponto de vista dos procedimentos técnicos, foi de pesquisa bibliográfica; e, do ponto de vista da abordagem do problema, qualitativa. Os resultados revelam que a sobreposição da surdez sobre outras determinações sociais acaba produzindo diferentes assimetrias de poder e afetando, desproporcionalmente, as pessoas surdas; além de ter o efeito de simplificação da complexidade das identidades surdas interseccionais e o silenciamento de suas necessidades específicas. Conclui-se que a educação bilíngue da pessoa surda deve superar a mera tradução do currículo regular ouvinte a fim de possibilitar a construção de novos olhares que tragam os devidos recortes interseccionais, dentre eles o recorte racial. Essa seria uma condição sine qua non no avanço para além do binarismo surdo/ouvinte, língua de sinais/língua oral, normalidade/deficiência.