Edições anteriores

  • 2018

    APRESENTAÇÃO:

    DO BELO E DO SUBLIME NA EDUCAÇÃO

     

    Esta coletânea, em parceria, uma vez mais, com a FUNDARTE, entre outros objetivos, surgiu da necessidade de se repensar, à luz da contemporaneidade, a multiplicidade de elementos que cercam o conceito do belo e do sublime, em especial, no espaço da Educação em todos os níveis e graus. O momento histórico no qual estamos imersos, em que o presente desvanece, o passado se faz presente sob uma capa multiforme e o futuro pouco promete, (devido a incertezas), precisa do pensamento reflexivo em todas as instâncias. Sob diversas perspectivas.

    Nessa medida, os artigos (de cunho ensaístico) aqui apresentados, buscam, mesmo que de forma breve, questionar, em especial, cânones e normas que, muitas vezes, possuem somente a aparência de uma legitimidade. Busca-se questionar, inclusive, quais seriam os limites da prática e da pesquisa docente. Em outras palavras: quais seriam as reais dimensões do belo e do sublime no ato de educar? Como entender, de fato, os inúmeros tentáculos que envolvem o belo e o sublime? E muitas outras questões são, minimamente, levantadas com o intuito do permanente e necessário exercício do pensamento.

    O texto de Olgária Matos faz uma belíssima e autoral leitura de Blanqui em sua famosa obra A eternidade pelos astros. Convoca o leitor a refletir as condições de um pensador diante das injustiças que lhe cercaram a vida. Blanqui, como se sabe, passou grande parte de sua vida em prisões pelo simples motivo de jamais abdicar de seus conceitos e ideias. Foi contra todo tipo de injustiça e não recuou diante das ameaças que a todo momento lhe rodeava. Nesse sentido, Olgária Matos ressalta a beleza, o belo e o sublime da leitura cosmológica de Blanqui. Uma verdadeira reserva poética que inspirou e ainda inspira muitos pensadores e educadores. Um texto que provoca, acima de tudo, os limites de nossa tão almejada liberdade.

    O texto de Carminda Mendes André é o resultado (parcial) de uma pesquisa financiada pela FAPESP e pelo CNPq. Relata, entre outras coisas que poderiam ser mencionadas, experiências que envolvem os integrantes de seu grupo de pesquisa e que serve de estímulo a muitos outros pesquisadores. Uma pesquisa de grande fôlego que envolve teoria e prática. Adverte, sobretudo, o quanto a expressão (em várias direções) do sublime está presente em situações vividas por ela e pelos integrantes de seu grupo de pesquisa.

    Julia Maria Hummes, Márcia pessoa Dal Bello e Ubyrajara Brasil Dal Bello problematizam o conceito do belo e do sublime em relação à estética. Nessa perspectiva, retornam a Kant e esclarecem elementos de percepção significativos para que o ato de educar, o belo e o sublime estejam em perfeita convergência.

    O texto de Bruno Messina Coimbra, graças a uma bolsa, via UNIFESP (SAIL/Study Abroad in Lebanon), é fruto de uma reflexão muito significativa de sua viagem, acompanhada de seus professores de pós-graduação, que fez ao Líbano. O autor traça um diálogo, brilhante, entre o Ocidente e o Oriente. Nessa bela experiência resgata o quanto o belo e o sublime convergem para a tradição, assim como para o presente. Temos, portanto, uma verdadeira lição de que educar vai muito mais além das quatro paredes de uma sala de aula.

    O texto de Ana Maria Haddad Baptista reflete, por meio de sua prática docente, quais seriam os grandes eixos que movem um professor. Em que medida o belo e o sublime devem estar presentes enquanto educamos? Educar é belo? Aula é movimento? Questiona o quanto um professor/educador deve olhar para si mesmo, fazer um balanço sério e profundo acerca de suas responsabilidades em relação à educação de sensibilidades, além de uma mera transmissão de conteúdos.

    Diana Navas, Eliane Aparecida Galvão Ribeiro Ferreira e Luiz Fernando Martins de Lima questionam, em especial, os limites e possibilidades de uma educação que leve em conta o diálogo (tão sonhado e almejado) entre Arte, Literatura e Educação. A necessidade de tal diálogo, sempre ressaltado e reconhecido, mas que na prática possui obstáculos. No entanto, que tais obstáculos podem ser compreendidos e, por fim, em certa medida, superados.

    Em que medida o diálogo entre as artes, a literatura e educação seriam possíveis? Tal indagação é proposta por Clóvis Da Rolt em seu texto. Nessa medida, questiona parâmetros conceituais que envolvem as expressões pós-modernidade, sociedade líquida, sociedade hipermoderna, pós-humana, dentre outras, e como compreender e situar de forma lúcida a necessidade da leitura e do ensino das artes.

    Um percurso e trajetória do educador se perfaz por trilhas, na maioria das vezes, inesperadas. Nessa medida, Adriano Nogueira nos coloca, em forma de fragmentos, quais foram seus principais desafios enquanto educador. O diálogo necessário com as sensibilidades e repertórios daqueles que fizeram parte de sua história enquanto professor e ao mesmo tempo pesquisador. E, também, enquanto promovedor de encontros e ‘círculos de cultura’, por usar uma forte expressão de Paulo Freire.

    O texto de Maurício Silva discute a importância do diálogo com o discurso literário, principalmente, nos anos iniciais de escolarização, que, sem dúvida, envolvem o belo e o sublime, (mesmo que de forma implícita), nas relações entre o professor, o aluno, a escola e o mercado editorial.

    O texto de Márcia Fusaro apresenta um verdadeiro quadro, bastante inovador, fundamentando que o belo e o sublime podem se manifestar em espaços que poucos percebem. Nessa medida, analisa as obras de diversos pintores que foram essenciais no processo de compreensão da amplitude que envolve o conceitual do belo e do sublime.

    O belo e o sublime na linguagem musical constituem o principal foco do texto de Catarina Justus Fischer. Num permanente diálogo, entre presente e passado, nos leva a pensar nos encantamentos com os quais se deparou em seus inúmeros encontros com a música e suas expressões em todos os sentidos.

    O texto de Sonia Regina Albano de Lima, entre outros pontos que poderiam ser mencionados, é direcionado para questões relacionadas com a linguagem musical, o belo e o sublime. Faz comparações importantes para expressar os parâmetros do belo e do sublime da Antiguidade. Nessa medida, mostra o quanto o conceito de harmonia e outros tomam novos rumos na contemporaneidade.

    Rosemary Roggero e Vania Marques Cardoso discutem, à luz de uma consistente fundamentação, os conceitos do belo e do sublime. Nessa medida, fazem colocações importantes para se pensar a desfiguração dos valores culturais das massas em obras de manipulação em diversos graus e sentidos, em especial, nos tempos atuais.

    Diante do exposto, acreditamos que esta coletânea deverá favorecer reflexões que se interponham em nossa prática como docentes e pesquisadores. Acreditamos, inclusive, que a unidade desta coletânea reside, em especial, aos espaços concedidos ao ‘autoral’, ou seja, permitir que os integrantes tivessem a rara oportunidade de colocar (admitindo-se os riscos) uma escritura que vá muito além do estritamente estabelecido por normas e regras rígidas que expressam, na maioria das vezes, apenas o tédio, a mesmice, a repetição do desgastado e a inautenticidade de postulados e hipóteses (mesmo que implícitas). No entanto, sem jamais perder de vista o rigor do conteúdo e das fundamentações realmente consistentes. Sem perder de vista a busca, sempre incansável (e quase inalcançável), de uma linguagem e de uma sintaxe envolventes e, certamente, a sedução do escritural.

     

    ANA MARIA HADDAD BAPTISTA

    DIANA NAVAS

    JULIA MARIA HUMMES

    MÁRCIA PESSOA DAL BELLO

    As organizadoras